Alimentação como Memória e Identidade Social na Vida do Idoso

Alimentação como Memória e Identidade Social na Vida do Idoso

Alimentação como Memória e Identidade Social na Vida do Idoso

É de extrema importância que a pessoa idosa possa refletir sobre suas práticas alimentares, desde a seleção do alimento, como o pré-preparo e o preparo, pensando nesta relação afetiva e cognitiva com o alimento. É a partir disso que se desenvolve uma atenção especial sobre os hábitos alimentares, que se tornam meio de interação do idoso com sua cultura e meio ambiente e proporcionam ao idoso lembranças relacionadas ao ato de comer, que não se resume apenas ao biológico (nutrir-se), mas sobretudo aos valores simbólico humanos. A comida envolve a emoção; ativa e mobiliza a memória e os sentimentos.

O avanço do envelhecimento populacional, no Brasil e em outros países desenvolvidos, tem chamado atenção devido à redução do nível de fecundidade e à melhoria das condições médias de vida, que vem transformando o País, segundo Nogueira, em “mais idoso”. Diante desse cenário, é imprescindível conhecer as diversas práticas sociais dessas pessoas, quer seja na idade idosa ou ao longo de suas vidas.

Nós do Instituto Alce, organização da sociedade civil que tem por finalidade promover a cidadania e prestar apoio e orientação que promovam mudança nas pessoas, viabilizamos por meio de parcerias programas assistenciais e educacionais direcionados ao idoso que assegurem a efetivação de direitos, especialmente, à educação, ao trabalho e à cidadania. Um dos programas são as oficinas que abordam a importância da alimentação na qualidade de vida, cuja proposta pedagógica associa questões comportamentais, culturais e históricas com a alimentação.

Entendemos que todo o ato ligado ao alimento traz consigo uma história e retrata uma cultura complexa, abrangendo os modos de produção, preparo, consumo e interpretação da comida. Conforme Montanari, esta construção histórica e simbólica de lembranças da cultura através das práticas alimentares pode ser compreendida como uma representação simbólica.

Em muitas oportunidades evidencia-se essa interdependência entre a prática alimentar e os aspectos culturais e históricos do indivíduo. Segundo Mintz, os hábitos alimentares podem mudar inteiramente quando crescemos, mas a memória e o peso do primeiro aprendizado alimentar e algumas das formas sociais apreendidas através deles permanece, talvez para sempre, em nossa consciência. Observa-se o quanto se conta a memória em suas relações com a consciência de si. As lembranças e hábitos da infância, os primeiros atos ligados à comida, repercutem com suas significações no presente.

Outro aspecto interessante é o protagonismo da figura da mãe na cozinha, especialmente no preparo da comida e na produção e manutenção de certo saber culinário. Na visão de Assunção, a “comida de mãe” nos remete a um pertencimento, a uma memória, a um tempo e um lugar. As expressões “comida da mãe”, ou “comida caseira” ilustram bem este caso, evocando infância, aconchego, segurança, ausência de sofisticação ou de exotismo. Ambas remetem ao “familiar”, ao próximo, ao frugal. Nessa perspectiva, o “toque caseiro” é o toque mais íntimo em oposição ao “toque profissional”, em série, não-pessoal. O toque “da mãe” é uma assinatura, que implica tanto no que é feito, como na forma pela qual é feito, que marca a comida com lembranças pessoais.

Quando se procura entender o papel desempenhado pela alimentação na vida das pessoas, percebe-se que não se trata apenas de uma simples incorporação de material nutritivo necessário para a sobrevivência, mas também de algo que possui um profundo significado subjetivo, social e cultural. Segundo Vitolo, o hábito alimentar do idoso não é determinado somente por preferências ou mudanças fisiológicas, mas também por questões sociais e culturais.

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