A prevenção do mal-estar em ambientes de aprendizagem através da Roda de Terapia
Nas relações de ensino e aprendizagem, educador e terapeuta comunitário convergem para um bem comum que é criação de um ambiente de aprendizagem colaborativo, acolhedor e humano. Ensinar é um exercício de diálogo, de troca, de reciprocidade e prevenir o mal-estar em ambientes de aprendizagem é uma meta que o Instituto Alce busca em todas as suas práticas. A Roda de Terapia, como prática complementar em ambientes escolares, possibilita meios para a prática de uma educação libertadora e dialógica. É na escuta ativa que aprendemos. Quando falo de mim, estou ensinando e quando ouço o outro, estou aprendendo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), através da Declaração de Alma – Ata sobre Cuidados Primários, afirma que saúde é um completo estado de bem estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença. Nesse sentido, o investimento em saúde primária se faz de suma importância na prevenção do mal-estar e na promoção de uma vida saudável. Vale destacar que o bem-estar dos indivíduos anda lado a lado com o desenvolvimento humano e o pleno exercício da cidadania. Não obstante, ressalta-se o termo “cidadania” para além da raiz latina de quem pertence a uma cidade, assumindo cidadania “enquanto participação e o cidadão como aquele que é capaz de, com sua ação consciente, forjar seu próprio destino histórico.” (MARTINS, 2000)
Na contemporaneidade, a vida líquida condicionada por um sistema capitalista implica aos sujeitos certas demandas e construções sociais, o que traz, por vezes, uma série de complicações, frustrações e problemáticas que levam a um estado de mal-estar. Nessa perspectiva, e visando maior atenção à prevenção desse mal-estar inerente a vida dos indivíduos, o Instituto Alce implementa práticas integrativas no formato de Rodas de Terapia Comunitária como uma ação necessária e fundamental de proteção à saúde.
No âmbito escolar há alunos de diferentes culturas, com experiências de vida e idades diferentes, cada um com estilos de vida e contextos sociais distintos convivendo no mesmo espaço. Para a maioria das pessoas lidar com as questões do cotidiano não é uma tarefa fácil. Em se tratando de adolescentes, jovens adultos (ou até mesmo adultos) dentro do cenário da escola, não é diferente. Surgem nesses espaços problemáticas como o bullying, questões emocionais relacionadas a fase da vida desses indivíduos, ou ainda, conflitos complicados trazidos de casa e que repercutem no modo como essa pessoa age na escola. Nessa linha de pensamento, oferecer um espaço de acolhimento no qual alguém que esteja passando por um problema, seja ele qual for, possa ser escutado produz no sujeito um efeito de existência àquilo que lhe acomete o estado de mal-estar. A partir disso, ele poderá buscar soluções para o seu estado e ressignificar tal problema de maneira a amenizar seu sofrimento psíquico.
A Roda de Terapia proporciona esse espaço de acolhimento, fala e escuta. No desenrolar da roda de terapia; processos culturais, étnicos, raciais, de gênero, atravessam a fala dos indivíduos, o que possibilita o surgimento de implicações subjetivas individuais e o compartilhamento de experiências e aprendizados entre os membros do grupo. Além disso, o efeito grupal proporciona aos integrantes uma sensação de pertencimento e compreensão do sentimento que o colega expõe, o que possibilita o exercício da empatia e da equidade. O fato de saber que o outro sente a mesma coisa ou algo muito próximo, torna mais fácil lidar com as problemáticas. Essa mutualidade de emoções e sentimentos, cria uma sinergia interessante no grupo, fazendo com que os participantes saibam que não estão sozinhos. Nesse movimento, os aspectos culturais oferecidos pela terapia comunitária, como a música e poemas, por exemplo, são muito importantes para ajudar a expressar aquilo que muitas vezes as palavras não conseguem dizer. Como diria Simone de Beauvoir “é na arte que o homem se ultrapassa definitivamente”.
A roda de terapia, portanto, se faz presente dentro dos projetos do Instituto Alce como ferramenta no combate ao mal-estar e na promoção de saúde, aliada ao desenvolvimento humano e a qualificação profissional, visando o empoderamento e a liberdade do sujeito enquanto cidadão. Na busca por uma sociedade mais igualitária e na tentativa de promover maiores oportunidades, entende-se que a transformação começa no indivíduo. Ao ir tomando consciência de suas capacidades, ao retirar entraves psíquicos que dificultem sua caminhada e, mais ainda, nas trocas com o outro, é que tornarão o sujeito ativo de suas escolhas e agente de sua própria vida.
Finalizando, a Roda de Terapia Comunitária, apoiada na pedagogia libertadora de Paulo Freire, estimula a autonomia e a potencialidade do ser em “subsidiar transformações em suas próprias vidas” e no mundo.