Discriminação e Educação

Discriminação e Educação
Atualizado em: 13/02/2021

Discriminação e Educação

Os protestos recentes de combate ao racismo e seus símbolos

Os protestos contra o racismo se espalharam pelo mundo, tendo como destaque a violência contra a comunidade negra e outras “minorias”, dentre as quais muitas delas incluídas em grupos de vulnerabilidades sociais. Mesmo que o quadro do racismo seja dependente do passado histórico, político e sociocultural, seu processo de ampliação, transformação e consequência é equiparável muitas vezes com as atitudes do racismo tradicional nos dias de hoje. Esse movimento salutar de protesto em escala mundial nos convida a reflexões muito importantes para revermos situações que ocorreram e, infelizmente, ainda ocorrem nos dias de hoje.

Muito do comportamento de discriminação cotidiana é apontado de diversas formas, sendo elas sutis, corriqueiras e imperceptíveis. Estes gestos, julgados aparentemente racistas, mas que para o agressor “soa” apenas como uma mera brincadeira. Conforme Deschamps atitudes raciais são manifestadas de formas indiretas muito diversas, mostrando um deslocamento do racismo associado a fatores biológicos para fatores de ordem cultural.

Sendo assim, o racismo brasileiro se manifesta nas mais variadas instituições sociais, percorrendo as relações subjetivas e políticas. Essas manifestações culminam com diferenças e desigualdades cada vez mais gritantes no campo educacional e na busca por melhores colocações no mercado de trabalho.

Justiça e equidade social

Equidade e justiça fazem-se presentes em contextos semelhantes e por vezes são utilizadas como se tivessem um mesmo sentido. Porém, os conceitos e ideias são distintos. A equidade considera as diferenças como elemento essencial para a eficácia da igualdade. Sendo assim, a equidade passa a ser a justiça aplicada no caso particular, ou seja, a justiça contextualizada e individualizada.

A equidade é ponto chave para a busca da justiça social. Conforme Floriano Pesaro, em “A Busca pela Equidade Social“: Precisamos incorporar práticas de desenvolvimento sustentável que garantam a justiça social. De forma que, não existe justiça social sem equidade de oportunidades. A justiça social no Brasil depende de mudanças atitudinais profundas, das quais todos somos responsáveis. A equidade social é a garantia da universalização de acesso aos direitos previstos em nossa Constituição e, portanto, chave para um projeto de sociedade justa e fraterna. 

Na nossa visão, a educação é uma forma efetiva para superarmos as desigualdades sociais.

Racismo e Educação

O ambiente escolar é constituído por uma diversidade étnica e cultural, cuja diversidade é em algumas situações comparativa, desigual e preconceituosa, concomitantemente sofre e contribui com essas desigualdades. Segundo Portela (2008), ao chegar à escola, as características físicas de cada criança são motivos de atenção. A primeira impressão sobre o outro ser social, “a aparência, textura do cabelo, a cor da pele, o formato do nariz” e outras características físicas distintas umas das outras causam estranheza, pois se, de um lado, as crianças brancas têm um contato midiático com iguais, ou seja, quase tudo que vêem em histórias de contos de fada, histórias em quadrinhos e desenhos animados são iguais a elas, de outro lado, as crianças negras, através de todos esses meios midiáticos criam a imagem de “mais valor” dos brancos por esses estarem em evidência em tudo o que vêem.

Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em 2009 sobre as políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil, destaca que um número cada vez maior de pesquisadores vem apontando que manifestações de preconceito e práticas de discriminação têm estado presentes nas salas de aula, afetando o cotidiano escolar e a construção positiva da auto-imagem, da auto-estima e do desempenho de uma parte expressiva dos alunos negros. Tais manifestações e práticas perpassam os livros escolares e o material didático utilizado, e se expressam nas relações entre os alunos e inclusive nas relações entre os professores e os alunos.

Ainda conforme o estudo do IPEA, são expressivas as desigualdades entre brancos e negros nas diversas etapas da vida escolar. Os negros encontram-se em situação desfavorável em relação aos brancos desde os primeiros anos do Ensino Fundamental, com indicadores mais elevados de repetência e de evasão. Em decorrência, mantêm taxas mais altas de defasagem escolar (inadequação entre idade e série) e abandono da escola, além de chegarem mais tarde e em menor proporção ao Ensino Médio e ao Ensino Superior. As consequências se fazem sentir na forma de acesso ao mercado de trabalho, onde os jovens negros entram mais cedo do que os jovens brancos e em posições de menor demanda de qualificação.

É preciso refletir sobre cada ação e intervenção pedagógica nos meios escolares. O discurso deve promover a igualdade e propagar o combate à discriminação em todas as esferas. 

Persistência e comprometimento para a construção de uma realidade mais justa

Perpassando neste contexto da realidade social em que poucos representantes negros estão em evidência na mídia, em profissões e cargos de destaque social, podemos compreender a extrema importância de modificarmos esse cenário por meio da educação. A educação é um dos eixos básicos na reflexão sobre o combate às desigualdades na sociedade brasileira. 

O Instituto Alce busca qualificar a população de maior vulnerabilidade social, especialmente para aqueles que detêm menores chances de obterem uma vaga no mercado de trabalho formal, buscando uma formação humana e cidadã que minimize questões relacionadas à discriminação racial e social. Acreditamos que a esfera educacional é um espaço estratégico para a construção de uma sociedade mais dinâmica, igualitária e integrada. Além da imprescindível função formativa, a educação, como geradora de oportunidades, constitui-se numa porta de entrada privilegiada ao mercado de trabalho e representa instrumento poderoso de ascensão social.

O direito ao acesso à educação de qualidade e a oportunidades deveria ser igual para todos independente da raça, cor ou nível social. Mas o que se percebe muitas vezes são pensamentos do tipo: “as oportunidades existem, eles é que não sabem aproveitar”. Com ideias “culturalmente de décadas”, a sociedade num todo não se modifica, os preconceitos, as injustiças e os erros vão se perpetuando alimentando um círculo vicioso sem grandes modificações sociais.

Contudo, vale ressaltar que existiram e existem heróis que lutaram e lutam para o progresso e a liberdade de uma sociedade mais justa e igualitária. No cenário atual, estas pessoas se qualificam e não medem esforços para mostrar à sociedade que é de extrema necessidade e urgência darmos atenção a atitudes que possam levar ao preconceito existente no ambiente escolar. É necessário persistir no respeito à diversidade em todos os sentidos.

Artigo produzido por:

Juliana Mendes

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